quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

DÉCIMA CAUSA

Pensar em você é fácil, é 'mais do mesmo', é uma rotina.
Em algum momento você surge em minha mente.
Como uma luz que, mesmo fraca, ilumina.
E ainda assim, me cega, bloqueia o que há em frente.

No entanto, te encarar é diferente,
Por maior que seja a vontade, o desejo.
Finjo que te persigo e te provoco.
Mas ainda não estou pronto pro seu beijo.
Por enquanto nada muda, tudo igual.
Planejo tudo sem nenhum planejamento,
Entre as vontades e a falta de coragem
Continuo com você no pensamento.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

MADRUGADA VAZIA

A noite passando, o sono não vem,
você foi embora. Sem volta? eu não sei.
Vou pra sacada, acendo um cigarro
Nas ruas, silêncio, sem vultos, nem carros.

A lua me olha, brilhante, calada.
Na minha cabeça: você! você e mais nada,
No peito, um vazio, um aperto sem fim.
Você me deixou, e levou um pedaço de mim.

Volto pro quarto, tento esquecer
pra distrair, ligo a TV
a mulher do filme me lembra você
é loira, bem alta, não tem nada a ver.

Desligo tudo mas não consigo desligar
E mesmo no escuro te vejo em todo lugar
A cama vazia, já é quase dia
Escuto os pássaros começando a cantar.

Já são 5 e meia, desisto e me levanto,
Preparo um café bem forte, no entanto, 
olhando pra cama, desfeita, vazia
Me lembro das noites em que eu dormia
abraçado ao seu corpo que me aquecia.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

MAIS UM DIA

...No silêncio da noite, entro na casa, escura, vazia. Acendo a luz da sala e vou direto até a cozinha; abro a geladeira e pego uma cerveja.
Caminho até a sala e me sento no sofá.
Retiro do bolso um amassado maço de cigarros. Acendo um rapidamente, num gesto de quase desespero, como se precisasse dele para respirar ou pra relaxar.
Uma longa tragada, olho pra frente e me vejo refletido na TV desligada.
Encaro o olhar que me encara e o que eu vejo não é nada mais do que uma pessoa sem nada demais.
Tento lembrar sobre o dia que passou. Procuro na memória algum momento que marcou, algum encontro, algum pensamento ou sentimento. Não houve nada, ou seja, apenas mais um dia. 


terça-feira, 5 de agosto de 2014

Eu gosto de escrever

Eu gosto de escrever, mas não escrevo tanto quanto gostaria.
Eu gosto de tentar. Gosto de imaginar. Gosto de procurar.
Procuro frases, procuro idéias vagando por aí; procuro inspiração pra contar algo sem começo, meio e fim, mas com tudo misturado, que pelo menos faça algum sentido pra mim.
Queria fotografar, pintar, filmar.
Queria te contar. Contar histórias tristes com finais felizes e felizes histórias com finais tristes, histórias que existem, histórias que nunca vivi.
Queria uma história sem final. Quero um final para algumas histórias.

Eu gosto de pensar que meu jeito de pensar fará você repensar tudo o que você pensa que sabe.
Eu gosto de dançar, mas não sei dançar.
Eu gosto de cantar, mas não sei cantar.
Eu queria aparecer, mas não vai acontecer.

Não gosto de fingir, mas finjo. Finjo cada dia mais. 
Finjo pro mundo, assim como o mundo se finge pra mim.

Não gosto de você, mas você não sai do meu pensamento.
Eu gosto de você, pelo menos, neste momento.

Gosto de ser alegre, mas não sinto mais tanta alegria como já senti um dia.
Acho que gosto de mim, mas me maltrato tanto, mesmo sem gostar de me maltratar.
Quero gostar mais, não quero mais gostar.
Quero te escrever, mas isso eu nunca irei fazer.

Sendo assim, mais uma história aqui termina.
Mais uma história sem final chega ao fim.
Outras que eu nunca terminei um dia estarão aqui. Talvez com fim.

E, Sem final pra terminar.
Sem moral para pensar.
Sem canção pra se cantar.
Sem canção para dançar.
Sem amor pra dar, pra emprestar.
Sem dor para marcar,
Sem mentir, sem fingir, sem enganar.


Eu não sei escrever, mas o que fazer, se eu gosto tanto de escrever?

sexta-feira, 7 de março de 2014

Que dia triste

Valdecir se foi...
Valdecir, o irmão mais velho do meu pai.
Foi quem o ensinou bem cedo o trabalho na roça;
Foi seu primeiro melhor amigo. Talvez o maior.
Foi seu companheiro nos bailinhos na juventude.
Foi quem me batizou. E, assim, virou o 'cumpadi'.

Eu não o via com frequência, mas sempre senti um carinho muito grande por ele.

Fui ao hospital no último domingo, mas não pude vê-lo; meu pai subiu no meu lugar.
Sem saber, foi o momento do adeus entre os amigos 'cumpadis'.
Durante a visita, meu pai disse que, enquanto lhe dizia palavras de apoio, uma lágrima rolou...ele sabia que não estava só.

Eu, do lado de fora, não pude me despedir pessoalmente, mas isso não foi ruim.
Prefiro guardar na memória os bons dias, quando nos víamos, ele ainda bem de saúde, com o seu jeito: sempre quieto, humilde, simples. Onde mais ouvia do que falava.

Valdecir se foi. E um pouco da ingenuidade e da beleza do mundo se foi com ele.