Dessas 6 décadas, eu tenho acompanhado, às vezes perto, às vezes longe, algumas vezes através das histórias dos amigos em comum, há quase 4. Praticamente 4 se contarmos o período em que passei na barriga da minha mãe.
Fui o primeiro filho dele, o que herdou seu nome e muitas outras coisas.
Nesses nossos 40 anos de convivência, vi, vivi e aprendi tanto que não sei dizer com certeza o quanto há de mim em mim e o quanto há dele em mim. Falo sobre caráter, erros, medos, modos, etc.
Não sou muito bom de memória, mas me lembro de momentos aparentemente simples que ele transformou em marcantes na minha vida até hoje e certamente para sempre.
Não sou muito bom de memória, mas jamais esquecerei tantas situações que fizeram eu me transformar no que sou hoje. Algumas boas, outras que eu não concordava e algumas que eu ainda não concordo.
Brincamos quando eu era uma criança, mas até hoje acho que não brincamos o suficiente pra saciar a minha vontade de sorrir e me divertir ao seu lado;
Discutimos também, e, mais uma vez, acho que não discutimos o suficiente para que todas as questões fossem resolvidas;
Crescemos juntos ao mesmo tempo, com 20 anos de diferença entre nós. Fato que muitas vezes ignorávamos completamente.
Hoje é o aniversário dele, mas sou eu quem comemora.
Foi ele o meu primeiro herói, o Wil que minha mãe e eu íamos esperá-lo voltar do trabalho todos os dias no ponto de ônibus.
Foi com ele que eu aprendi o valor de um ‘obrigado’, um ‘por favor’, um sorriso;
Foi dele o primeiro aviso de que a vida lá fora cobrava por cada ato impensado. E como nós dois, e tantos outros, fomos cobrados.
Foi ele quem, talvez sem perceber, me fez pensar por mim mesmo, questionar, brigar, aceitar o inevitável e lutar pelo que eu queria, mesmo quando não era o que ele queria pra mim.
Foi ele também quem me mostrou que meu primeiro herói era humano. Errava, se perdia, perdia a coragem sem perder a essência.
Num determinado momento de nossas vidas, momento que não sei dizer exatamente quando começou, deixamos de ser pai e filho e viramos amigos, confidentes.
Lembro de tantos sacrifícios que ele teve de fazer pra que minha vida fosse melhor do que foi a dele quando era jovem.
Lembro das várias vezes que rimos juntos, choramos juntos, dos conselhos que trocávamos, das histórias impublicáveis.
Com o tempo, nasceu uma cumplicidade tamanha onde nós sempre sabíamos a quem procurar na hora de pedir conselhos, falar sobre um problema, criar um assunto para não pensar num dia triste, muitas vezes falar sobre o nada ou simplesmente desejar um bom dia ao outro. Confesso que, até hoje é ele quem faz isso me ligando praticamente todos os dias.
O tempo, esse ingrato aliado, faz eu desejar mais 6 décadas de vida intensa ao meu primeiro herói, me faz desejar estar ao seu lado todo o tempo que for possível. Porque o tempo, o ingrato aliado, também me faz sentir saudades de quando eu nada sabia e ele, às vezes, nem sempre da forma ‘certa’, cumpria a sua tarefa de fazer de mim quem eu sou hoje.
Nunca terei palavras suficientes pra descrever meu orgulho, meu amor, meus sinceros agradecimentos por tê-lo por perto até hoje pra me ensinar tudo o que eu aprendi e que continuo aprendendo até hoje.
Feliz aniversário, meu Herói.