sábado, 26 de junho de 2010

A chuva

Há anos que não chovia naquele lugar pálido e afastado de tudo. Um lugar outrora considerado tão promissor. Mas isso foi há muitos anos, e ninguém sabe dizer ao certo o que houve de errado.
Foi um longo período de clima seco, sem flores, sem cores; sem vida.
Mas ele sentiu que havia algo diferente de uns dias pra cá. E então, numa determinada manhã, ele teve uma estranha sensação. Mas não sabia bem o que era.
Quando abriu a janela, espantou-se; viu ao longe uma enorme nuvem escura, carregada.
Esfregou seus olhos para ter a certeza de que não era mais uma ilusão, mais um delírio. Sua saudade da chuva às vezes era tanta que ele poderia estar imaginando novamente.
Mas, para seu prazer, realmente havia uma nuvem, uma nuvem de chuva! Ela estava lá, e se aproximava rapidamente e, em poucos segundos, grandes e abundantes gotas começaram a cair do céu. E a chuva logo aumentou, transformando-se numa linda tempestade.
Ele correu porta afora e, feliz como há muito não se sentia, ria e chorava, soluçava alto, levantava os braços, sentindo cada gota penetrar seu corpo e sua alma adormecidos pelo tempo.
Ficou nesse estado de êxtase e deslumbramento sem saber por quanto tempo, até que a chuva parou, da mesma maneira que começou: repentinamente.
Ele olhou para o céu, e ele já estava azul novamente, sem nuvens e sem sinais de que voltaria a chover tão cedo.
Então, voltou pra sua casa e deitou-se no chão da sala, com seus cabelos e suas roupas ensopadas.
Estava triste, mas também estava feliz.
Sabia que em breve sua roupa secaria, e que o cheiro da chuva logo desapareceria, e decidiu aproveitar até o fim as marcas que a chuva deixou nele, e torceu para que um dia voltasse a chover sobre ele novamente.